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No
passado dia 2 de Janeiro, encontrei-me com a Vânia para realizar esta
entrevista. A Vânia é uma ex-aluna do curso de Línguas e Humanidades da nossa
escola que está no terceiro ano no curso de Teatro na Escola Superior de Música
e Artes de Espetáculo (ESMAE), ganhou o concurso “Conte Connosco” a nível
nacional do Banco Santander Totta pela composição e interpretação do tema “A
palavra (desculpa)” e ainda gravou um álbum. É impossível ficar indiferente à
sua voz infantil, ao seu talento arrebatador e à sua personalidade encantadora.
Jornal Impressão (J.I): Com que
idade surgiu o interesse e a paixão pelo mundo da música e da representação?
Vânia
Pereira (V.P.): Eu
acho que o da música surgiu primeiro do que o da represenntação. O da música
surgiu quando era mesmo pequenina. Lembro-me de ter três anos e de já andar
pela casa a cantar, depois por volta dos cinco ou seis ofereceram-me um karaoke daqueles de brincar, mesmo para
os pequeninos e eu cantava as músicas todas da Celine Dion e lembro-me de pôr as bonecas todas em cima da cama e
fazer espetáculos para elas com as músicas das Spice Girls (risos).
O gosto pela
representação não sei bem quando começou, mas sei que uma vez vi a Eunice Muñoz
a dar uma entrevista na televisão e achei que aquela senhora era um sonho, que queria
ser igual a ela e fazer aquilo que ela fazia e ela foi a minha grande
inspiração… a primeira. Depois fui crescendo, comecei a fazer os teatrinhos da
escola, estive entretanto no EntreActos – um grupo que tivemos do 10º ao 12º na
Escola. Toda a gente dizia que tinha imenso “jeitinho” para ser atriz, aquelas
coisas que dizem às crianças, e se calhar eu tinha mesmo. Uma vez vi também a
Maria Ruef, que é uma das minhas inspirações na comédia, e perguntavam-lhe
porque tinha escolhido o teatro e ela dizia que não conseguia imaginar-se a ser
uma coisa só, queria poder experimentar ser um pouco de tudo e eu
identifiquei-me… Precisava de uma profissão em que pudesse ir de princesa a
advogada, ou professora, ou veterinária, ou jornalista… e assim começou a
surgir este gosto pelo teatro.
(J.I.):
Com que idade deste o 1º concerto? Como recordas essa experiência?
(V.P.):
O primeiro
concerto foi com os Feeling High, tinha
eu 17 anos. Estava muito muito nervosa, ainda que fosse aquilo que sempre
quisesse ter feito, acho que ainda era uma miudinha. Era a primeira vez que
sentia a adrenalina de contatar com o público num espetáculo musical. Muita
gente, muitas fotografias, pessoas no fim chegaram a pedir autógrafos e era tão
estranho para mim que eu só pensava “Ó meu Deus, eu não mereço isto tudo”! É
uma experiência que por muitas palavras que procure e por muitos adjetivos que
use nunca vou conseguir explicar. De repente sentes que não tens rede de protecção,
estás ao vivo, a provar o teu talento a todos os que estão a ouvir, se falhares
toda a gente vai perceber, estás a ser autêntica, não há playbacks e dás aquilo
que tens. Adrenalina. Adrenalina é a palavra, acho. (risos)
(J.I.):
E em relação ao teatro, como foi a tua primeira experiência?
(V.P.):
Foi um turbilhão
enorme, mas ainda hoje é assim, antes do espetáculo os nervos são tantos que eu
sou a única pessoa que não se consegue acalmar, estou sempre em pânico a achar
que não vou conseguir, que me vou esquecer do texto todo, que vou cair em palco
(risos), eu imagino os piores cenários possíveis, mas a partir do momento em
que se pisa o palco, em que se diz a primeira deixa, é suficiente para passar
tudo e, eu não sei explicar… Eu não posso dizer que não me lembro do que faço,
porque me lembro, de quase tudo, mas isso também consegui com o curso de
interpretação, porque aprendemos a ter consciência do que fazemos em palco, mas
nesta primeira vez eu não me lembrava de nada do que tinha feito por a adrenalina
ser tão grande. Foi a primeira vez que fiz uma coisa para muita gente ver e foi
a primeira vez que tive uma reação muito positiva, o que é extraordinário e
inspirador, claro.
(J.I.): Como surgiu o projeto “Blues
for Someone”? Explica-nos este nome e apresenta-nos este projeto.
(V.P.): Então, eu conheci o Pedro,
gravamos esse vídeo e um tempo depois, após percebermos que estavamos a gostar
de trabalhar um com o outro, achamos que devíamos fazer alguma coisa juntos, um
projeto a sério, não só para publicar vídeos no youtube, mas para saír para a rua e dar concertos.
Entretanto
saí dos Feeling High e decidimos oficializar o projeto. Para decidir o nome,
andámos imenso tempo e não conseguíamos chegar a lado nenhum. Nessa altura eu
lembrei-me de “BluesforSomeone”, os “Blues” porque o azul sempre foi uma das
minhas cores e “para alguém” porque faço música para alguém, não faço música
para mim. Há cantores que dizem que cantam para eles, eu não. Eu canto para os
outros, se eu quisesse cantar só para mim, cantava sozinha no meu quarto.
(risos) O que não quer dizer que não haja momentos desses, em que sou só eu e o
meu quarto, mas esses são de aperfeiçoamento... Eu considero os de partilha bem
mais bonitos. E foi assim que nasceu o nome. Entretanto, um colega de turma, o
Alex, disse-me que era percussionista, eu falei-lhe do projeto e juntou-se o
útil ao agradável e ficamos os três.
(J.I.): Em 2012, os “Blues for
Someone”, tiveram um ano em grande, para além de ganharem o concurso “Conte
Connosco” a nível nacional do Banco Santander Totta pela composição e
interpretação do tema “A palavra (desculpa)”, ainda lançaram o álbum “Fluxo” em
Maio e fizeram concertos por todo o Norte. Quais os planos para 2013?
(V.P.):
O ano de 2012
foi mesmo um ano em grande. Demos imensos concertos, gravámos o CD com o prémio
que recebemos do “Conte Connosco”, mas entretanto, o Alex, que é brasileiro de
gema teve de regressar ao Brasil em Dezembro, e por isso ficamos sem ele. Eu e
o Pedro, sinceramente, ainda não temos perspetivas de futuro, até porque os
Blues éramos os três, fomos nós que construímos tudo do zero, então não me
parece fazer muito sentido continuar com os “BluesforSomeone”. Agora para 2013 o
que estou a pensar é criar a minha carreira a solo. A minha cara, o meu nome.
Talvez continue com o Pedro como meu pianista, talvez não, ainda está tudo em
aberto...
(J.I.): Disseste que para 2013 vais investir
num projeto a solo, podemos esperar um cd também a solo?
(V.P.): Para 2013 CD acho que ainda é
muito cedo, mas quem sabe o que o futuro reserva…
(J.I.):
Vamos voltar ao 10º ano, mencionaste que foi aí que te decidiste por teatro,
então porque seguiste Línguas e Humanidades e não optaste mesmo por um curso de
teatro? Foi depois de fazeres esta escolha que percebeste que era o teatro que
querias?
(V.P.):
Foi quase ao
mesmo tempo. Sinceramente eu gostava muito de todas as áreas, menos de Artes,
porque não tinha jeito nenhum para desenhar e como sempre adorei línguas: o inglês,
o francês, o espanhol este pareceu-me o mais acertado, até porque se quisesse
de facto fazer um curso de representação, no futuro, seria vantajoso…
Na altura não fui para
representação. Podia ter ido para a Academia Contemporânea de Espetáculo (ACE),
mas a família queria que eu optasse por uma área “normal”, acabasse o 12º
“direitinho” e, preferencialmente fosse para a faculdade para um curso “a
sério” (como as pessoas lhe chamam) e só depois seguir então representação.
Além disso, precisava de muito boas bases a português para seguir
representação. Não me arrependi em nada e acho que escolhi bem.
(J.I.): E aos
nossos alunos, que conselho deixas para o futuro que nos espera, baseado na tua
experiência e no que vês?
(V.P.): Por favor, não sejam o típico
médico, o típico advogado, o típico engenheiro, o típico professor… só porque o
pai ou a mãe quis! Por favor! O único conselho que dou é que escolham alguma
coisa a nível profissional pela qual tenham amor, pela qual sejam apaixonados. A
vossa carreira tem de ter uma base sólida de amor, de vocação e de talento.
Claro que é preciso muito trabalho, é 99% de trabalho e 1% de talento, é
verdade, e quando entramos numa faculdade isso evidencia-se, mas acho que
quando se opta por um profissão pensando apenas no capital e esquecendo o
“factor coração”, não vamos ser bons profissionais.
(J.I.):
Como e quando é que optaste pelo curso de teatro e conheceste a ESMAE?
(V.P.):
Na altura do 11º,
a ESMAE chegou-me numa daquelas feiras de divulgação de cursos. Peguei no
panfleto, juntamente com muitos outros e guardei. Entretanto, percebi que
queria fazer um curso superior de música ou teatro, sendo que o segundo também
incluia aulas de voz e me daria uma maior polivalência. No 12º ano, acabei os
exames e fui à ESMAE pedir informações. Soube que tinha de fazer uma semana
inteira de provas, tudo o que era necessário e voltei a casa para falar com a
minha mãe. Quando tive de preencher os papéis para o ingresso ao ensino
superior com as seis opções, apenas me candidatei à ESMAE, ainda sem ter feito
provas nenhumas. Claro que a minha mãe não ficou contente, porque em cerca de 200
candidaturas por ano entram 20 alunos e eu podia não entrar e não tinha
escolhido mais nenhuma opção. Em Junho fiz a semana de provas e entrei. E
depois de lá estar dentro, ninguém me tirou mais (risos).
(J.I.):
Tu tens uma voz única e consegues fazer vozes infantis, entra nos teus
planos/sonhos fazer dobragens para desenhos animados?
(V.P.):
Entra, já entrou
e está a entrar. Fiz recentemente dobragens para um filme que vai estrear no
cinema, o “As Aventuras de Vickie” e estou agora também a fazer dobragens para
a voz da Barbie, para desenhos animados e um filme. Já fiz também uma música
para um livro infantil que é “O grilinho Tenor” disponível no youtube. E acho que daqui para a frente,
mais projetos em dobragens surgirão.
(J.I.):
De todas as personagens que já interpretaste, consegues escolher a tua
favorita, a que te marcou mesmo?
(V.P.):
Eu interpretei
no 1º ano da faculdade uma personagem de Commedia dell'arte.
Commedia dell'arte
é incrível, é um tipo de comédia italiana em que os atores usam máscaras e as
personagens são pré-definidas, com um conjunto de caraterísticas também
pré-definidas das quais não podes fugir e é feita à base de improviso.
A nível teatral foi a experiência
mais maravilhosa da minha vida. Era o Zanni, um personagem-tipo da Commedia dell'arte, e é uma das
personagens à volta da qual o espetáculo gira, pois são as asneiras e as
palhaçadas dela que vão virar a história toda “de pernas para o ar”. (risos)
(J.I.):
No inicio da entrevista disseste
que querias seguir comédia, foi nesta peça que descobriste esse teu lado?
(V.P.):
Foi, foi
exatamente aí. O primeiro ano foi mais à base da comédia, o segundo drama e o
terceiro são os clássicos, como Shakespeare. E pelos vários exercícios que fiz
ao longo dos três anos, a minha aptidão natural é comédia. Não quer dizer que
não goste de fazer drama, até porque um ator tem de ser versátil e fazer tudo,
mas comédia é o bichinho que está cá dentro e me sai naturalmente.
(J.I.): Qual foi a maior lição que aprendeste
com cada uma das personagens que já interpretaste?
(V.P.):
Eu
aprendi que é muito importante não nos deixarmos influenciar pelo universo da
personagem fora de cena. É muito difícil. Quando não estamos preparados
psicologicamente, quando não temos ainda o estofo necessário, quando somos
alunos, é muito complicado gerir uma personagem com um universo horrível.
Quando eu fiz um desses dramas, a minha personagem era uma rapariga viciada em
drogas, que entrou nesse mundo por causa do namorado, vivia na rua,
prostituía-se para ter dinheiro para droga, era um universo muito pesado para
gerir. Era tão pesado, tão pesado, tão pesado que às vezes não consegues
separar as coisas, eu andava irritada, triste e chorava incontrolavelmente,
mesmo fora de cena. Claro que este também é um dos fatores pelo qual o teatro é
tão importante, abrir-nos a mentalidade, fazer-nos olhar para onde não olhamos.
Eu perguntava-me “porque é que viramos as costas a estas pessoas, porque é que
não nos preocupamos com estas realidades?”. Mas uma coisa é tomar consciência
dos factos enquanto actor, outra é quase viver a vida do personagem. O teatro
és tu e frases de um guião que tens de acreditar que podiam ser tuas e pensar, se
fosses tu naquela situação, o que farias, como reagirias, o que sentirias, mas
saber que é apenas uma projecção ficcionada.
(J.I.):
Quem são as tuas maiores
inspirações no mundo do espetáculo?
(V.P.): Em
teatro, a Eunice Muñoz, a Maria Ruef na comédia. A Simone Oliveira, tanto na
música como no teatro, o Ruy de Carvalho, a Margarida Carpinteiro.
A nível musical as minhas principais
inspirações são a Beyoncé, a Joss Stone, a Alicia Keys, a Sara Bareilles,
Jennifer Hudson...
(J.I.):
São mais mulheres… Grandes
mulheres
(V.P.): Sim, eu
tenho essa admiração especial pelas mulheres, não sei porquê mas quando é para
admirar vozes, é o universo feminino e as vozes femininas que me cativam mais.
(J.I.):
Nem sequer são bandas, são elas a
dar a cara ao projeto. Achas que te vão inspirar especialmente, neste novo ano
e neste novo projeto?
(V.P.):
Espero
que sim, conto com algumas influências delas.
(J.I.): A nível nacional, no
universo atual da música em quem te inspiras?
(V.P.):
Inspiro-me
imenso, não tanto nas bandas delas, mas nela própria, Marisa Pinto,
ex-vocalista dos Donna Maria, atual vocalista dos Amor Electro. Gosto muito da
Susana Félix. Gosto muito da Aurea e acho que no panorama nacional é a que tem
mais para dar.
(J.I.):
2013 é muito recente, mas em que projetos anseias trabalhar?
(V.P.):
Espero continuar
a trabalhar em dobragens e acho que vou trabalhar essencialmente nisso. Espero
poder trabalhar na minha carreira a solo também e veremos o que me espera…
(J.I.):
Vais acabar o curso este ano?
(V.P.):
Sim, este ano em
Junho. 2013 é sinónimo de expetativa, muita expetativa no ar. Mas agora ao
contrário do passado, prefiro não me agarrar em ilusões e o que vier vem.
What if…
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(J.I.):
Se pudesses fazer um dueto, com alguém, vivo ou morto com quem farias?
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(V.P.):
Queria cantar
a Listen com a Beyoncé.
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(J.I.):
Se pudesses contracenar com qualquer ator, vivo ou morto com quem
contracenarias?
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(V.P.):
Eu queria
muito contracenar com a Marion Cotillard.
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(J.I.):
Se um dia fizerem um filme biográfico, sobre ti, quem gostarias que
interpretasse o papel principal?
(V.P.):
A Beyoncé.
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(J.I.): Se tivesses que
escolher entre cantar ou representar, qual escolherias?
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(V.P.):
Acho que seria
cantar, porque acho que cantar nasceu comigo.
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(J.I.): Se tivesses que ouvir
uma canção para o resto da tua vida, qual seria?
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(V.P.):
Eu não me
consigo decidir entre a Listen da Beyoncé e a Gravity da Sara Bareilles.
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(J.I.): Se pudesses acordar em
qualquer lado do mundo, com a tua profissão de sonho, onde estarias e a fazer
o quê?
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(V.P.):
Estaria em
Nova Iorque, na Broadway, num musical da Disney, se calhar a fazer a Ariel
n’A pequena Sereia.
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(J.I.): Se tivesses que ir para
uma ilha e só pudesses levar três objetos, quais levarias?
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(V.P.):
Levava o meu telemóvel,
para estar sempre em contacto com as pessoas que deixava cá, o I-pad com
ligação à internet e a minha caixinha de recordações para nunca me esquecer
de quem sou e das minhas raízes.
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