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1 de junho de 2013 0 comentários

Entrevista a Vânia Pereira


No passado dia 2 de Janeiro, encontrei-me com a Vânia para realizar esta entrevista. A Vânia é uma ex-aluna do curso de Línguas e Humanidades da nossa escola que está no terceiro ano no curso de Teatro na Escola Superior de Música e Artes de Espetáculo (ESMAE), ganhou o concurso “Conte Connosco” a nível nacional do Banco Santander Totta pela composição e interpretação do tema “A palavra (desculpa)” e ainda gravou um álbum. É impossível ficar indiferente à sua voz infantil, ao seu talento arrebatador e à sua personalidade encantadora.

Jornal Impressão (J.I): Com que idade surgiu o interesse e a paixão pelo mundo da música e da representação?
Vânia Pereira (V.P.): Eu acho que o da música surgiu primeiro do que o da represenntação. O da música surgiu quando era mesmo pequenina. Lembro-me de ter três anos e de já andar pela casa a cantar, depois por volta dos cinco ou seis ofereceram-me um karaoke daqueles de brincar, mesmo para os pequeninos e eu cantava as músicas todas da Celine Dion e lembro-me de pôr as bonecas todas em cima da cama e fazer espetáculos para elas com as músicas das Spice Girls (risos).
 O gosto pela representação não sei bem quando começou, mas sei que uma vez vi a Eunice Muñoz a dar uma entrevista na televisão e achei que aquela senhora era um sonho, que queria ser igual a ela e fazer aquilo que ela fazia e ela foi a minha grande inspiração… a primeira. Depois fui crescendo, comecei a fazer os teatrinhos da escola, estive entretanto no EntreActos – um grupo que tivemos do 10º ao 12º na Escola. Toda a gente dizia que tinha imenso “jeitinho” para ser atriz, aquelas coisas que dizem às crianças, e se calhar eu tinha mesmo. Uma vez vi também a Maria Ruef, que é uma das minhas inspirações na comédia, e perguntavam-lhe porque tinha escolhido o teatro e ela dizia que não conseguia imaginar-se a ser uma coisa só, queria poder experimentar ser um pouco de tudo e eu identifiquei-me… Precisava de uma profissão em que pudesse ir de princesa a advogada, ou professora, ou veterinária, ou jornalista… e assim começou a surgir este gosto pelo teatro.

(J.I.): Com que idade deste o 1º concerto? Como recordas essa experiência?
(V.P.): O primeiro concerto foi com os Feeling High, tinha eu 17 anos. Estava muito muito nervosa, ainda que fosse aquilo que sempre quisesse ter feito, acho que ainda era uma miudinha. Era a primeira vez que sentia a adrenalina de contatar com o público num espetáculo musical. Muita gente, muitas fotografias, pessoas no fim chegaram a pedir autógrafos e era tão estranho para mim que eu só pensava “Ó meu Deus, eu não mereço isto tudo”! É uma experiência que por muitas palavras que procure e por muitos adjetivos que use nunca vou conseguir explicar. De repente sentes que não tens rede de protecção, estás ao vivo, a provar o teu talento a todos os que estão a ouvir, se falhares toda a gente vai perceber, estás a ser autêntica, não há playbacks e dás aquilo que tens. Adrenalina. Adrenalina é a palavra, acho. (risos)

(J.I.): E em relação ao teatro, como foi a tua primeira experiência?
(V.P.): Foi um turbilhão enorme, mas ainda hoje é assim, antes do espetáculo os nervos são tantos que eu sou a única pessoa que não se consegue acalmar, estou sempre em pânico a achar que não vou conseguir, que me vou esquecer do texto todo, que vou cair em palco (risos), eu imagino os piores cenários possíveis, mas a partir do momento em que se pisa o palco, em que se diz a primeira deixa, é suficiente para passar tudo e, eu não sei explicar… Eu não posso dizer que não me lembro do que faço, porque me lembro, de quase tudo, mas isso também consegui com o curso de interpretação, porque aprendemos a ter consciência do que fazemos em palco, mas nesta primeira vez eu não me lembrava de nada do que tinha feito por a adrenalina ser tão grande. Foi a primeira vez que fiz uma coisa para muita gente ver e foi a primeira vez que tive uma reação muito positiva, o que é extraordinário e inspirador, claro.


(J.I.): Como surgiu o projeto “Blues for Someone”? Explica-nos este nome e apresenta-nos este projeto.
(V.P.): Então, eu conheci o Pedro, gravamos esse vídeo e um tempo depois, após percebermos que estavamos a gostar de trabalhar um com o outro, achamos que devíamos fazer alguma coisa juntos, um projeto a sério, não só para publicar vídeos no youtube, mas para saír para a rua e dar concertos. 
Entretanto saí dos Feeling High e decidimos oficializar o projeto. Para decidir o nome, andámos imenso tempo e não conseguíamos chegar a lado nenhum. Nessa altura eu lembrei-me de “BluesforSomeone”, os “Blues” porque o azul sempre foi uma das minhas cores e “para alguém” porque faço música para alguém, não faço música para mim. Há cantores que dizem que cantam para eles, eu não. Eu canto para os outros, se eu quisesse cantar só para mim, cantava sozinha no meu quarto. (risos) O que não quer dizer que não haja momentos desses, em que sou só eu e o meu quarto, mas esses são de aperfeiçoamento... Eu considero os de partilha bem mais bonitos. E foi assim que nasceu o nome. Entretanto, um colega de turma, o Alex, disse-me que era percussionista, eu falei-lhe do projeto e juntou-se o útil ao agradável e ficamos os três.

(J.I.): Em 2012, os “Blues for Someone”, tiveram um ano em grande, para além de ganharem o concurso “Conte Connosco” a nível nacional do Banco Santander Totta pela composição e interpretação do tema “A palavra (desculpa)”, ainda lançaram o álbum “Fluxo” em Maio e fizeram concertos por todo o Norte. Quais os planos para 2013?
(V.P.): O ano de 2012 foi mesmo um ano em grande. Demos imensos concertos, gravámos o CD com o prémio que recebemos do “Conte Connosco”, mas entretanto, o Alex, que é brasileiro de gema teve de regressar ao Brasil em Dezembro, e por isso ficamos sem ele. Eu e o Pedro, sinceramente, ainda não temos perspetivas de futuro, até porque os Blues éramos os três, fomos nós que construímos tudo do zero, então não me parece fazer muito sentido continuar com os “BluesforSomeone”. Agora para 2013 o que estou a pensar é criar a minha carreira a solo. A minha cara, o meu nome. Talvez continue com o Pedro como meu pianista, talvez não, ainda está tudo em aberto...

 (J.I.): Disseste que para 2013 vais investir num projeto a solo, podemos esperar um cd também a solo?
(V.P.): Para 2013 CD acho que ainda é muito cedo, mas quem sabe o que o futuro reserva…

(J.I.): Vamos voltar ao 10º ano, mencionaste que foi aí que te decidiste por teatro, então porque seguiste Línguas e Humanidades e não optaste mesmo por um curso de teatro? Foi depois de fazeres esta escolha que percebeste que era o teatro que querias?
(V.P.): Foi quase ao mesmo tempo. Sinceramente eu gostava muito de todas as áreas, menos de Artes, porque não tinha jeito nenhum para desenhar e como sempre adorei línguas: o inglês, o francês, o espanhol este pareceu-me o mais acertado, até porque se quisesse de facto fazer um curso de representação, no futuro, seria vantajoso…
Na altura não fui para representação. Podia ter ido para a Academia Contemporânea de Espetáculo (ACE), mas a família queria que eu optasse por uma área “normal”, acabasse o 12º “direitinho” e, preferencialmente fosse para a faculdade para um curso “a sério” (como as pessoas lhe chamam) e só depois seguir então representação. Além disso, precisava de muito boas bases a português para seguir representação. Não me arrependi em nada e acho que escolhi bem.

(J.I.): E aos nossos alunos, que conselho deixas para o futuro que nos espera, baseado na tua experiência e no que vês?
(V.P.): Por favor, não sejam o típico médico, o típico advogado, o típico engenheiro, o típico professor… só porque o pai ou a mãe quis! Por favor! O único conselho que dou é que escolham alguma coisa a nível profissional pela qual tenham amor, pela qual sejam apaixonados. A vossa carreira tem de ter uma base sólida de amor, de vocação e de talento. Claro que é preciso muito trabalho, é 99% de trabalho e 1% de talento, é verdade, e quando entramos numa faculdade isso evidencia-se, mas acho que quando se opta por um profissão pensando apenas no capital e esquecendo o “factor coração”, não vamos ser bons profissionais.

(J.I.): Como e quando é que optaste pelo curso de teatro e conheceste a ESMAE?
(V.P.): Na altura do 11º, a ESMAE chegou-me numa daquelas feiras de divulgação de cursos. Peguei no panfleto, juntamente com muitos outros e guardei. Entretanto, percebi que queria fazer um curso superior de música ou teatro, sendo que o segundo também incluia aulas de voz e me daria uma maior polivalência. No 12º ano, acabei os exames e fui à ESMAE pedir informações. Soube que tinha de fazer uma semana inteira de provas, tudo o que era necessário e voltei a casa para falar com a minha mãe. Quando tive de preencher os papéis para o ingresso ao ensino superior com as seis opções, apenas me candidatei à ESMAE, ainda sem ter feito provas nenhumas. Claro que a minha mãe não ficou contente, porque em cerca de 200 candidaturas por ano entram 20 alunos e eu podia não entrar e não tinha escolhido mais nenhuma opção. Em Junho fiz a semana de provas e entrei. E depois de lá estar dentro, ninguém me tirou mais (risos).

(J.I.): Tu tens uma voz única e consegues fazer vozes infantis, entra nos teus planos/sonhos fazer dobragens para desenhos animados?
(V.P.): Entra, já entrou e está a entrar. Fiz recentemente dobragens para um filme que vai estrear no cinema, o “As Aventuras de Vickie” e estou agora também a fazer dobragens para a voz da Barbie, para desenhos animados e um filme. Já fiz também uma música para um livro infantil que é “O grilinho Tenor” disponível no youtube. E acho que daqui para a frente, mais projetos em dobragens surgirão.

(J.I.): De todas as personagens que já interpretaste, consegues escolher a tua favorita, a que te marcou mesmo?
(V.P.): Eu interpretei no 1º ano da faculdade uma personagem de Commedia dell'arte. Commedia dell'arte é incrível, é um tipo de comédia italiana em que os atores usam máscaras e as personagens são pré-definidas, com um conjunto de caraterísticas também pré-definidas das quais não podes fugir e é feita à base de improviso.
A nível teatral foi a experiência mais maravilhosa da minha vida. Era o Zanni, um personagem-tipo da Commedia dell'arte, e é uma das personagens à volta da qual o espetáculo gira, pois são as asneiras e as palhaçadas dela que vão virar a história toda “de pernas para o ar”. (risos)

(J.I.): No inicio da entrevista disseste que querias seguir comédia, foi nesta peça que descobriste esse teu lado?
(V.P.): Foi, foi exatamente aí. O primeiro ano foi mais à base da comédia, o segundo drama e o terceiro são os clássicos, como Shakespeare. E pelos vários exercícios que fiz ao longo dos três anos, a minha aptidão natural é comédia. Não quer dizer que não goste de fazer drama, até porque um ator tem de ser versátil e fazer tudo, mas comédia é o bichinho que está cá dentro e me sai naturalmente.

(J.I.): Qual foi a maior lição que aprendeste com cada uma das personagens que já interpretaste?
(V.P.): Eu aprendi que é muito importante não nos deixarmos influenciar pelo universo da personagem fora de cena. É muito difícil. Quando não estamos preparados psicologicamente, quando não temos ainda o estofo necessário, quando somos alunos, é muito complicado gerir uma personagem com um universo horrível. Quando eu fiz um desses dramas, a minha personagem era uma rapariga viciada em drogas, que entrou nesse mundo por causa do namorado, vivia na rua, prostituía-se para ter dinheiro para droga, era um universo muito pesado para gerir. Era tão pesado, tão pesado, tão pesado que às vezes não consegues separar as coisas, eu andava irritada, triste e chorava incontrolavelmente, mesmo fora de cena. Claro que este também é um dos fatores pelo qual o teatro é tão importante, abrir-nos a mentalidade, fazer-nos olhar para onde não olhamos. Eu perguntava-me “porque é que viramos as costas a estas pessoas, porque é que não nos preocupamos com estas realidades?”. Mas uma coisa é tomar consciência dos factos enquanto actor, outra é quase viver a vida do personagem. O teatro és tu e frases de um guião que tens de acreditar que podiam ser tuas e pensar, se fosses tu naquela situação, o que farias, como reagirias, o que sentirias, mas saber que é apenas uma projecção ficcionada.

(J.I.): Quem são as tuas maiores inspirações no mundo do espetáculo?
(V.P.): Em teatro, a Eunice Muñoz, a Maria Ruef na comédia. A Simone Oliveira, tanto na música como no teatro, o Ruy de Carvalho, a Margarida Carpinteiro.
A nível musical as minhas principais inspirações são a Beyoncé, a Joss Stone, a Alicia Keys, a Sara Bareilles, Jennifer Hudson...

(J.I.): São mais mulheres… Grandes mulheres
(V.P.): Sim, eu tenho essa admiração especial pelas mulheres, não sei porquê mas quando é para admirar vozes, é o universo feminino e as vozes femininas que me cativam mais.

(J.I.): Nem sequer são bandas, são elas a dar a cara ao projeto. Achas que te vão inspirar especialmente, neste novo ano e neste novo projeto?
(V.P.): Espero que sim, conto com algumas influências delas.

(J.I.): A nível nacional, no universo atual da música em quem te inspiras?
(V.P.): Inspiro-me imenso, não tanto nas bandas delas, mas nela própria, Marisa Pinto, ex-vocalista dos Donna Maria, atual vocalista dos Amor Electro. Gosto muito da Susana Félix. Gosto muito da Aurea e acho que no panorama nacional é a que tem mais para dar.

(J.I.): 2013 é muito recente, mas em que projetos anseias trabalhar?
(V.P.): Espero continuar a trabalhar em dobragens e acho que vou trabalhar essencialmente nisso. Espero poder trabalhar na minha carreira a solo também e veremos o que me espera…

(J.I.): Vais acabar o curso este ano?
(V.P.): Sim, este ano em Junho. 2013 é sinónimo de expetativa, muita expetativa no ar. Mas agora ao contrário do passado, prefiro não me agarrar em ilusões e o que vier vem.




What if…

(J.I.): Se pudesses fazer um dueto, com alguém, vivo ou morto com quem farias?
(V.P.): Queria cantar a Listen com a Beyoncé.
(J.I.): Se pudesses contracenar com qualquer ator, vivo ou morto com quem contracenarias?
(V.P.): Eu queria muito contracenar com a Marion Cotillard.
(J.I.): Se um dia fizerem um filme biográfico, sobre ti, quem gostarias que interpretasse o papel principal?
(V.P.): A Beyoncé.
(J.I.): Se tivesses que escolher entre cantar ou representar, qual escolherias?
(V.P.): Acho que seria cantar, porque acho que cantar nasceu comigo.
(J.I.): Se tivesses que ouvir uma canção para o resto da tua vida, qual seria?
(V.P.): Eu não me consigo decidir entre a Listen da Beyoncé e a Gravity da Sara Bareilles.
(J.I.): Se pudesses acordar em qualquer lado do mundo, com a tua profissão de sonho, onde estarias e a fazer o quê?
(V.P.): Estaria em Nova Iorque, na Broadway, num musical da Disney, se calhar a fazer a Ariel n’A pequena Sereia.
(J.I.): Se tivesses que ir para uma ilha e só pudesses levar três objetos, quais levarias?
(V.P.): Levava o meu telemóvel, para estar sempre em contacto com as pessoas que deixava cá, o I-pad com ligação à internet e a minha caixinha de recordações para nunca me esquecer de quem sou e das minhas raízes.





 
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